Sexualidade Além do Sexo
- aleh
- 1 de out.
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Preliminarmente, por que falar sobre sexualidade ainda é um tabu?
Quando estudamos sobre a sexualidade na escola (se é que estudamos), aprendemos que existem dois tipos de gênero, existe o homem (espermatozoides), existe a mulher (óvulos), e que, para algum deles ou melhor, qualquer um de nós existir, ocorre uma relação sexual, aonde cromossomos XX, XY se misturam.
Pouco se fala sobre a sexualidade além do básico, além do XX e do XY.
Entendemos que a sexualidade se mostra de maneira binária, mulher-homem. Porém, formas pré-definidas de dualidade, certo e errado, não condizem com a realidade interna do indivíduo.
Por que não vamos além disso? Afinal, o que é sexualidade?
A sexualidade, a partir da etimologia da palavra sexo, traz a questão do “dois”, ou seja, da divisão. A palavra “sexo” vem do latim, secare, que significa cortar em dois. A sexualidade remete, então, à diferença, à separação.
Encontramos no relato mitológico de Aristófanes, uma ilustração sobre separação, é ele também, que nos traz a encantadora ideia de “alma gêmea”.
Em um banquete grego, bem A.C., filósofos, médicos e pensadores conversavam sobre a natureza do amor. Após alguns discursos intelectuais, como por exemplo o de um médico que discursava sobre a dosagem do amor, comparando-a com um fármaco, não devendo passar da dose, para manter sua beleza e não cair no excesso do amor insano; Aristófanes, sendo um dramaturgo, começa a contar um mito: “É preciso primeiro aprender a natureza humana e suas modificações. Nossa antiga natureza não era a mesma de agora. O homem primitivo tinha quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com dois rostos, olhando em direções opostas. Alguns eram totalmente mulher, outros totalmente homem e alguns, metade mulher e metade homem”. Eles eram felizes e autossuficientes. Os deuses com inveja de seu vigor, resolveram parti-los ao meio, dessa forma eles estariam condenados a infelicidade eterna por não serem mais completos. “Desde então é inato nos homens o amor de uns para os outros, o amor que reestabelece nossa primitiva natureza e que, no empenho de formar de dois seres um único, sana a natureza humana.”, diz Aristófanes.
A punição divina sobre a humanidade dividiu todos aqueles que antes eram unos, deixando suas partes incompletas — essa é a condição atual dos humanos, a busca pela completude no amor, alguns tendo como a outra metade, o sexo oposto, outros, o mesmo sexo — mas não sua verdadeira natureza, segundo o dramaturgo.
Por que preferimos marginalizar o que foge dos padrões heteronormativos binários?
Ao trazer a discussão sobre sexualidade, Freud foi considerado escandaloso, polêmico.
Se nos dias atuais esse assunto ainda é um tabu, na época foi quase um crime.
Pra sentirmos um pouco dessa atmosfera, vamos começar com uma das suas grandes teorias:
“Somos todos bissexuais inatos”.
Freud sugeriu que todos os indivíduos possuem um potencial bissexual em sua constituição psíquica, ou seja, todos têm disposições sexuais masculinas e femininas. Ele argumentava que a bissexualidade é uma condição original do ser humano, sendo que, no desenvolvimento psíquico, a identidade sexual se estrutura a partir das identificações com figuras parentais e do recalque de certos desejos. Essa perspectiva indica que a orientação sexual não é um fator fixo, mas sim um resultado de processos inconscientes e culturais.
Para Freud, a cura gay era um absurdo. Certa vez escreveu em uma carta, respondendo à uma mãe que se queixava da homossexualidade de seu filho:
Nada há nela [na homossexualidade] de que se deva ter vergonha; não é um vício nem um aviltamento [rebaixamento moral], nem se pode qualificá-la de doença. Diversos indivíduos sumamente respeitáveis, nos tempos antigos e modernos, foram homossexuais, e entre eles encontramos alguns dos maiores dos nossos grandes homens (Platão, Leonardo da Vinci etc.). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, além de ser uma crueldade”.
Nessa época, a homossexualidade se chamava “homossexualismo” e encontrava-se em uma lista de transtornos mentais.
Freud foi imensamente criticado, e até hoje ainda é, por algumas de suas teorias, mas considerando todo o contexto da época (século 19), não podemos negar a sua abertura em considerar diferentes perspectivas.

Sexo apenas para reprodução?
Quando consideramos que a relação sexual não visa apenas a reprodução da espécie, mas o prazer em si, o papel da reprodução é colocado em outro plano. A ciência já demonstrou e tem demonstrado, com a criação de métodos contraceptivos, inseminação, fertilização in vitro, que a sexualidade não se resume ao XX, XY, citados no início do texto. Existe algo além, algo que molda desde a infância a identidade e os vínculos afetivos de cada um.
Freud argumenta que existem estágios, zonas do corpo, que formam a base da futura sexualidade adulta. Existe uma força que busca satisfação, fantasias e desejos reprimidos.
Uma construção social…
Ao reconhecer que a sexualidade não é um dado fixo, mas uma construção psíquica e simbólica, a psicanálise continua a ser uma ferramenta fundamental para entender os desejos, os conflitos e as angústias que ocorrem ao ser humano em sua relação consigo mesmo e com os outros. Assim, o estudo da sexualidade sob a ótica psicanalítica nos permite refletir sobre os desafios contemporâneos, como a diversidade sexual e os impactos das normas sociais na formação do desejo.


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